quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2008

(...) Em 2008, vi em média um filme por dia, o que dá trezentos e sessenta e muitos filmes num ano, a preto e branco e tecnicolor, principalmente. Passei a ficar deitada até tarde de manhã, não a dormir, mas a ver esses filmes, e assim fui deixando progressivamente de ir treinar para a barra todos os fins-de-semana. E depois vieram os queijos, os gelados, as gomas e as bolachas, e muitos outros hidratos de carbono, e assim se ganham quase cinco quilos.
Peso e cultura geral a nível cinematográfico foram das poucas coisas que ganhei este ano, sinceramente. Perdi muito mais do que aquilo que ganhei, e para dizer a verdade, tenho a certeza que não tive culpa, na maior parte dos casos. Tento acreditar que só ficaram os melhores: uma super melhor amiga à distância, uma super metade que aguenta os piores acessos de mau humor, um super apoio incondicional, uma super bomboca mal humorada essencial, um super parvo que tem a mania que percebe muito de abelhas e que não pára de fazer ‘zzzzzzzz’ nos meus ouvidos e que, pelos vistos, parece que gosta que lhe mordam os dedos, um super futuro político com dotes culinários, um super pequenino com quase dois metros de altura, um super puto maravilha que faz comboios a partir de laranjas e uma super família incluindo uma super irmã com uma Nintendo DS na qual eu ainda não pude sequer tocar… todos super-heróis, porque têm a coragem para me aturar. E os que perdi, pode ser que voltem, talvez já em Janeiro, talvez daqui a muito tempo… Talvez um dia. (...)
2008 foi um ano de perdas e de excessos, de bofetadas psicológicas e abraços negados, de erros e arrependimentos tardios, de saudades e de ausências. Se pesarmos todos os momentos deste ano numa balança de dois pratos, o do que foi bom e o do que foi mau, de certeza que este segundo ganha. Ainda assim, não trocaria por nada nenhum dos momentos do outro prato da balança, quer fossem um close-up de um filme, um grand-finale de um espectáculo, uma viagem de elevador, um abraço num corredor escuro, uma mão no ombro do outro lado do espelho, uma pirueta bem dada e uma quase-espargata, um gelado partilhado, uma noite inteira a dançar até ficar com os pés em ferida, puxões de orelha e puxões de nariz ou os fins de tarde das sextas-feiras perdidas. Valeu a pena, é tudo.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

white flag

I know you think that I shouldn't still love you
Or tell you that.
But if I didn't say it, well I'd still have felt it
where's the sense in that?
I promise I'm not trying to make your life harder

Or return to where we were

I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be

I know I left too much mess and
destruction to come back again
And I caused nothing but trouble
I understand if you can't talk to me again
And if you live by the rules of "it's over"
then I'm sure that that makes sense

I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
(...)

dido

Obrigada Fragoso, por teres sido o primeiro a ver as coisas como eu, a apoiar-me e dar-me os melhores conselhos. A música não tem grande coisa a ver connosco, mas diz quase tudo da conversa de hoje à tarde.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

choose love


I choose to hide
But I look for you all the time
I choose to run
But I'm begging for you to come
I wanna break
But I know that you can take
I stay a while
To be sure that you're by my side
Don't look at me, just look inside
'Cause I can go through
Tell me, are you goin' tired
Of what I don't do
I wanna see, I wanna fight
'Cause I don't feel scared
Honey, if you care
I choose to find
Things that you left behind
I choose to stare
But I can take you anywhere
I wanna stay
But my soul leaves you anyway
Can close the door
And love, could you give me more
(...)
ritaredshoes

domingo, 28 de dezembro de 2008

zzzz

Hoje chamei-me Inês. (a)
Fomos abelhas e fizemos meeeeel e depois eu perdi o ferrão e foi uma confusão.
Não tentem perceber. Se virem o meu ferrão, avisem, que eu quero voltar onde ele está.

sábado, 27 de dezembro de 2008

australia (2008)

"Just because it is, doesn't mean it should be."

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

anna karenina

"Quis atirar-se para debaixo do vagão que nesse momento chegava junto dela, mas a maleta vermelha, de que procurava desprender-se, distraiu-a e não lhe deu tempo: o centro do vagão já tinha passado. Era preciso esperar o imediato. Uma sensação parecida com a que costumava experimentar ao entrar na água à hora do banho apoderou-se dela, e persignou-se. Esse gesto familiar despertou-lhe na alma recordações da infância e da juventude. E, subitamente, desvaneceu-se a névoa que tudo cobria, e a vida exibiu-se-lhe por momentos em todas as suas radiosas alegrias passadas. Não apartava, porém, os olhos do vagão que se aproximava. No momento preciso em que o centro desse vagão lhe passava diante atirou fora a maleta vermelha e afundando a cabeça entre os ombros atirou-se-lhe para debaixo, caindo com o corpo em cima das mãos. Depois, com um ligeiro movimento, como se quisesse ainda levantar-se, quedou ajoelhada. Nesse instante sentiu horror do que fazia.
«Onde estou eu? Que faço eu? Para quê?», quis retroceder, atirar-se para trás, mas entretanto qualquer coisa enorme, inflexível, a apanhou pela
cabeça, arrastando-a de costas. «Senhor, meu Deus, perdoa-me tudo!», pronunciou, sentindo que lhe era impossível lutar. Um homenzinho resmoneava, martelando uns ferros por cima dela. E a vela à luz da qual Ana lera o livro da Vida, com todos os seus tormentos, todas as suas traições e todas as suas dores, resplandeceu, de súbito, com uma claridade maior do que nunca, alumiando as páginas que até então haviam estado na sombra. Depois crepitou, estremeceu e apagou-se para sempre."

Leo Tolstoy

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

entre portas e janelas

Foi numa tarde de Primavera, e estava calor em todo o lado, excepto na entrada dos prédios da minha rua. Mentia se te dissesse que não estava à espera, ou que foi sem querer, ou que me arrependo, e sei que também seria mentira se tu o dissesses. Dias depois, embora fosse Junho, choveu – e voltou a acontecer – outra, outra e outra vez, em dias de chuva e de sol, durante um mês. Quis parar. Na verdade, não queria ser eu a acabar com tudo, queria simplesmente que acabasse, antes que fosse tarde de mais. Quis parar mesmo antes de ter começado, embora nunca me tenha arrependido – de nada. Quis parar porque tive medo; mas tu prometeste que não nos ia acontecer nada e eu acreditei, ou fingi acreditar, porque era mais bonito assim, mais completo. Já nessa altura havia nas tuas promessas o irresistível pecado de acreditar, uma, duas, mil vezes, contra todas as evidências, naquilo que te propunhas a dar-me, quer fosse um beijo, uma estrela, a lua e o mundo ou, simplesmente, dar-te a mim. E, embora nunca me tenhas prometido a eternidade, ao longo dessas semanas cálidas, fui recolhendo nas tuas frases, nos teus telefonemas sussurrados a meio da noite, nos teus beijos, as palavras, ditas em voz alta ou escondidas numa carícia, necessárias para criar a promessa que nunca cumpriste e que, penso eu, nem nunca chegaste a fazer: “Fico contigo até deixares de precisar de mim.”
Certo dia, foste-te embora. Mandaste-me à merda e gritaste comigo, no meio da rua; e eu nem sequer tive culpa de não te amar quando devia ou de me ter vindo parar à frente dos olhos as duras, cortantes verdades que tu não querias que eu descobrisse. Foste-te embora e, sabes uma coisa? Eu ainda precisava de ti. Nunca me esqueço do abraço que me negaste nessa noite nem daquele que te pedi, dias depois, entre umas escadas que desciam para a praia e umas que subiam para a realidade, o abraço que queria que me desses para eu poder guardar e assim fechar uma porta da minha vida: a que dava acesso a ti.
Assim como não me esqueço do “despede-te de mim” que ordenaste na porta do elevador do meu prédio, e da forma como eu impedi a porta de se fechar, atirando com o meu braço direito contra ela, enquanto te dava o resto do meu corpo, entre lágrimas e soluços. Ou das vezes que me voltaste a encontrar na entrada do mesmo prédio da tarde de Junho, ou no mesmo elevador, ou no escuro de uma sala que só agora comecei a olhar com novos olhos, os olhos do que “podia ter acontecido”. Assim como não me esqueço do difícil que é deixar-te sempre e a cada vez e do quase impossível que foi ir-me embora da última vez, do atroz que foi deixar fechar aquela porta, entre beijos e abraços e regressos e retornos e “adeus, adeus outra vez, adeus mais uma vez”. Do mesmo modo que não me esqueço das frases feitas que fomos retirando da nossa caixinha dos romantismos ao longo dos últimos meses: “aquela estrela é para ti”, “dá-me um abraço para eu guardar”, “eu sei ler os teus olhos”, “queres que fique?”, “tenho medo”, “não me deixes ir”, “não vás”. Não vás. Abrimos e fechámos tantas vezes as mesmas portas que acabaram por emperrar. Hoje, peço-te apenas que me deixes um espaço na tua vida, por uns tempos, só até eu encontrar outras portas para abrir. E peço-te que me deixes entrar, só de vez em quando, mesmo que seja pela porta dos fundos, mesmo que seja por uma janela qualquer.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

pin-up-natal

É favor ser feliz nestes dias. Ou pelo menos fingir.
Bom Natal!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

perdidos na tradução

Escondo na ponta dos meus dedos um pedido e na ponta dos meus lábios uma promessa. Mas tu já não ouves nem sentes nada e ficamos assim, por tempo indefinido, perdidos na tradução do que fomos, do que ainda podemos ser, adormecidos na conjugação do verbo das possibilidades.

domingo, 21 de dezembro de 2008

peter pan (J. M. Barrie)

"Second star to the right and straight on till morning."
"To die will be an awfully big adventure."

"All of this has happened before, and it will all happen again."

sábado, 20 de dezembro de 2008

do grande e do pequeno amor (2)

"Nenhum deles aprendera a resistir ao chamamento do outro. Era como se os seus nomes respondessem, à revelia dos donos, de cada vez que eram prenunciados pelo outro. «Preciso de ti», disse ela. «É uma estupidez, bem sei, não nos entendemos, pois é, mas preciso de ti.» «Vamos tentar», disse ele, «temos de conseguir entendermo-nos, sem ti a vida dói» «ainda mais do que comigo?», perguntou ela, rindo."

Inês Pedrosa e Jorge Colombo

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

eu, tu, ele, nós, vós, ELES

"Eu sou teu e tu és minha
E todos, todos nós somos
De quem gostar muito de nós."

VAMOS A ELE!
it's show time.
. xinduá
u-are-iú?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

-

"O que ninguém sabe, nunca aconteceu." - Petite

Acredita nisto, se te faz feliz.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

do grande e do pequeno amor (1)


"Lembrou-se do gelado no congelador. Não gostava de comer gelado sozinha. Acreditava que o excesso de calorias se produzia através da solidão; acreditava que os gelados, com companhia, não engordavam. Acreditava em muitas coisas assim: presságios, provérbios, profecias, coisas antigas de que ele se ria"
Inês Pedrosa e Jorge Colombo

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

love in the afternoon (1957)




"In Paris people eat better, and in Paris people make love, well, perhaps not better, but certainly more often."

"I'm the girl in the afternoon."

domingo, 14 de dezembro de 2008

the boy next door

How can I ignore
The boy next door?
I love him more than I can say.
Doesn't try to please me, doesn't even tease me,
And he never sees me glance his way.

And though I'm heart-sore
The boy next door affection for me won't display,
I just adore him, so I can't ignore him,
The boy next door.

Lisa Ekdahl

"É com palavras que te dou, hoje, o maior abraço do mundo."

Mereces o Mundo. És a minha pessoa, a melhor parte de mim. Nunca te esqueças, disso e de que te amo. Nunca. E fica para sempre.


Parabéns minha petite!
(espero que tenhas recebido a minha prenda :$)


. tua big b

sábado, 13 de dezembro de 2008

a


"Eu sei ler os teus olhos."

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

acreditar

“I do believe in fairies, I do, I do!”

Se perguntares a uma criança porque é que acredita em fadas, ela nunca te irá responder que o faz simplesmente por necessidade – aquela necessidade de fantasia, açúcar colorido, pós mágicos que fazem voar, sereias, piratas e meninos que nunca crescem, aquela necessidade gritante de tudo aquilo que faz as crianças ainda serem crianças. Pelo contrário, responderá que acredita porque todas essas coisas existem mesmo.
E o mesmo acontece contigo, meu amor sem sombra que nunca cresce, tão igual a sempre. Por muito que me perguntem porque é que eu ainda espero por ti, porque é que acredito que ainda pensas em mim ou que ainda vais voltar, eu nunca irei responder que o faço porque de outra maneira não conseguiria sequer olhar para ti, quanto mais esquecer-te e perder-me de ti. Preciso de ti nos meus sonhos, na minha Terra do Nunca, para os concretizares, para me fazeres real. Preciso de acreditar nisso tudo - preciso de acreditar e acredito mesmo. Porque quando deixar de acreditar, a linha que separa o que eu tenho do que eu quero vai desvanecer-se, e eu, e tu, nós e a minha Terra do Nunca contigo, vão deixar de existir.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

manoel de oliveira

"O cinema só trata daquilo que existe, não daquilo que poderia existir. Mesmo quando mostra fantasia, o cinema agarra-se a coisas concretas. O realizador não é criador, é criatura."

Manoel de Oliveira, 100 anos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

les poupées russes (2005)


"I know you're not always perfect. I know you have tons of problems, defects, imperfections... but who doesn't? It's just that I prefer your problems. I'm in love with your imperfections. Your imperfections are just great! (...) I know most girls they get weak on their knees for what's beautiful, you know, that's all they see, that's all they want. But I'm not like that. I don't just see what's beautiful. I fall for the other stuff. I love what's not perfect. It's just how I am."

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

o enigma e o espelho

"Se eu quisesse desenhar uma coisa e soubesse de antemão que essa coisa viria a ganhar vida, jamais ousaria fazê-lo. Eu nunca criaria algo que não pudesse defender-se da vivacidade dos lápis de cor..."

Jostein Gaarder

domingo, 7 de dezembro de 2008

um sorriso numa carícia de papel

Vou contar-te uma história. No outro dia, embalei um sorriso numa carícia de papel. Quis mandar-to por correio, mas tinha perdido a tua morada. Limitei-me a abrir a janela da minha torre e mandar-to nas estrelas. Só que, agora, olhando pela mesma janela e vendo que ainda não voltaste, apercebo-me que talvez não o tenhas recebido a tempo. Ou então foram as estrelas que fizeram arder o embrulho de papel e perderam o meu sorriso algures no céu.
Se o vires por aí, devolves?

sábado, 6 de dezembro de 2008

back to you

"All the roads that I might take will all one day lead back to you."

(vá, deixa-me pensar que é para nós.)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

petite


Obrigada por te ter.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

paris je t'aime (2006)


"Listen. There are times when life calls out for a change. A transition. Like the seasons. Our spring was wonderful, but summer is over now and we missed out on autumn. And now all of a sudden, it's cold, so cold that everything is freezing over. Our love fell asleep, and the snow took it by surprise. But if you fall asleep in the snow, you don't feel death coming. Take care."

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

charade (1963)

Tenho um casaco igual ao dela (a)

Reggie Lampert: Is there a Mrs. Canfield...?
Adam Canfield: Yes.
Reggie Lampert: But you're divorced
Adam Canfield: No... [Regina's face drops]
Adam Canfield: My mother, she lives in Detriot, you'd like her, she'd like you too.
Reggie Lampert: Oh, I love you, Adam, Alex, Peter, Brian, whatever your name is, I love you! I hope we have a lot of boys and we can name them all after you!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

piece by piece

First of all must go
Your scent upon my pillow
And then I'll say goodbye
To your whispers in my dreams
And then our lips will part
In my mind and in my heart
Cause your kiss
Went deeper than my skin

Piece by piece
Is how I'll let go of you
Kiss by kiss
Will leave my mind one at a time
One at a time

First of all must fly
My dreams of you and I
There's no point of holding on to those
And then our ties will break
For your and my own sake
Just remember
This is what you chose

Piece by piece
Is how I'll let go of you
Kiss by kiss
Will leave my mind one at a time
One at a time
Katie Melua

sábado, 29 de novembro de 2008

bocadinhos teus e meus

Deixa-me perseguir-te um bocadinho.
Ser egoísta. Ser possessiva. Fazer chantagem emocional contigo. Fingir que não aguento. Não aguentar mesmo. Fechar os olhos com força, suster a respiração e esperar, esperar, esperar que alguém me venha salvar. Ou que ninguém venha. Guardar tudo o que tenho teu bem junto a mim. Guardar-te, abraçando-te. Abraçar-te, guardando-te. Lembrar-me. Lembrar-te. Sentar-me nos cantos de sempre. Esperar. Cansar-me de esperar. Pedir-te para esperar. Repetir as frases de sempre, cada vez mais longe do teu ouvido, cada vez menos sussurradas. Gritar. Gritar que te quero. Que não sei o que quero. Roubar-te. Roubar-te um olhar, uma palavra, um sorriso. Roubar-te tudo o que puder até simplesmente não poder mais.
Deixa-me perseguir-te um bocadinho. Só mais um bocadinho. E depois deixa-me deixar-te ir. Só por um bocadinho.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

terça-feira, 25 de novembro de 2008

quem sabe

Quem sabe se não és, tu mesmo, um anjo caído do céu.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

audrey hepburn (1929 - 1993)






"Necessito de muito amor, de ser amada e de dar amor. Não é o amor em si que me aterroriza, mas sim quando ele acaba."




sábado, 22 de novembro de 2008

a vez do triunfo

Digo-te – “sete” – com um sorriso de triunfo. Triunfo? Triunfo de quê? De te ter deixado partir, mais uma vez? De me ter deixado ir, outra última vez? De não ter conseguido sequer pedir-te para ficar, nem desta vez? De te ter mordido os dedos, despenteados os cabelos, engolido segredos, tão mais que da última vez?
Diz-me. Diz-me o que há de triunfo em precisar de ti a cada esquina, em procurar o teu olhar a cada segundo, em morrer e morrer e morrer a cada abraço teu. Diz-me. Diz-me porque é que cada vez me arrepia mais o teu toque – no meu ombro, no meu nariz, no meu queixo, no meu pé, no meu pulso, no meu…? Diz-me porque é que voltas. Diz-me porque é que vais – sempre, sempre, e nunca uma vez é igual à outra. Diz-me. Promete agora. Promete agora que é última vez.
Estará o triunfo algures por aí, na promessa que nunca fazes, entre o ir, o vir, o voltar e o nunca ficar – de vez?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

now or never


Now baby or never 'cause I been so good to you
Now baby or never I've been so lonesome, too
Now baby or never if I mean anything to you
Now baby or never 'cause I've wasted so much time
Now baby or never and you must make up your mind
Now baby or never it ain't no fault of mine

It's got to be yes or no
It's either you stay or go
You can't leave me on the shelf
You gotta commit yourself
It's either you will, or you won't fall In love with me

Lisa Ekdahl

sábado, 15 de novembro de 2008

voltar

A noite passada adormeci com o teu beijo, com o teu toque, com o teu pedido vão repetido na entrada daquele familiar prédio gélido. Tinhas-me dado um abraço mas, pura ironia, nao ficava bem no enquadramento da cena. Manchava a imagem anterior, a minha testa pressionada nas tuas costas, a minha ternura a aconchegar a tua fúria. Aconchego? Andávamos tão distantes que as minhas mãos pendiam como pesos mortos - tinha medo de te tocar.
E então disseram-te para me abraçares, para me protegeres - de ti? de mim? já nem lembro - e eu quase cedi ao impulso de rodear o teu pescoço com os meus braços e sussurrar ao teu ouvido algumas das lágrimas que me tinha esquecido de gritar, da última vez. Contive-me mas tu não desviaste o olhar. Voltaste a olhar-me nos olhos. Voltaste a sorrir-me. Voltei a pedir-te abraços. Voltámos aos jogos do costume. Voltei a sentir saudades tuas. Voltei a convencer-me que tinhas voltado, ou pelo menos que o ias fazer.
Voltei, voltaste, voltámos?
Tenho medo que tenhas voltado a fazer-me falta, só. E tenho mais medo ainda que esta falta que sinto seja apenas a falta tão vazia e sem sentido do próprio sentir falta. Sentir falta de mim mesma - não do que eu fui contigo, mas do que era quando ainda era contigo. Percebes?
Non-sense, je sais.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

irma la douce (1963)

"Shows you the kind of world we live in. Love is illegal - but not hate. That you can do anywhere, anytime, to anybody. But if you want a little warmth, a little tenderness, a shoulder to cry on, a smile to cuddle up with, you have to hide in dark corners, like a criminal."

Quando for grande quero ter umas meias verdes. "But that's another story."

sábado, 8 de novembro de 2008

a cabeleireira

“Acreditamos naquilo de que precisamos, não é? E acreditamos vinte, trinta, quarenta vezes, contra todas as evidências. Vemos o mal como uma nuvem temporariamente pousada sobre a testa do outro, não como uma parte da alma dele. Somos cândidos por desespero.”

Fica Comigo Esta Noite,
Inês Pedrosa

terça-feira, 4 de novembro de 2008

gorecki

If I should die this very moment
I wouldn't fear
For I've never known completeness
Like being here
Wrapped in the warmth of you
Loving every breath of you
Still in my heart this moment
Or it might burst
Could we stay right here
Until the end of time until the earth stops turning
Wanna love you until the seas run dry
I've found the one I've waited for
Lamb

sábado, 1 de novembro de 2008

two for the road (1967)

"BITCH. BASTARD."

Sob a forma de um procissão de automóveis, é-nos contada a historia da vida de um casal, interpretado por Audrey Hepburn e Albert Finney, durante as várias férias que passaram juntos pela Europa. Cada carro que passa traz-nos um pedaço de um Verão nos braços do Mediterrâneo, sucessivas analepses e prolepses que nos contam tudo sobre Joanna e Mark Wallace: um beijo esquecido, uma gargalhada num carro apertado, uma praia deserta, uma discussão com um toque de doçura que sempre deixa antever a reconciliação. Este filme é isso mesmo, uma estrada de dois sentidos, um vai-vem de sentimentos para quem vê o filme na expectativa de atingir o final feliz impossível ou até mesmo de se rever nalgum momento do romance; um vai-vem interminável de sentimentos em que as duas personagens acabam sempre por se encontrar, simplesmente porque nenhuma delas consegue existir se não existir com a outra.

Neste filme de Stanley Donen, Audrey Hepburn evidencia a sua versatilidade, envelhecendo mesmo ao longo do filme, passando da simples menina de coro virgem à esposa da alta sociedade. Quem imaginaria possível ver a única e juvenil Audrey Hepburn quase apagada?


Mark Wallace: What kind of people just sit in a restaurant and don't say one word to each other?

Joanna Wallace: Married people?

sábado, 25 de outubro de 2008

dança!

"Dançar é sentir, sentir é sofrer, sofrer é amar... Tu amas, sofres e sentes. Dança!"

Isadora Duncan (1877-1927)

terça-feira, 21 de outubro de 2008


"Se não fosses uma pessoa, serias com certeza um anjo. Para mim já o és!"
Ou já o fui?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

splendor on the grass (1961)

"Though nothing can bring back the hour of splendor in the grass, glory in the flower, we will grieve not; rather find strength in what remains behind."

sábado, 18 de outubro de 2008

"nos pés o peso leve da eternidade..."



"O reclinar-se
O descolar dos braços
Ergue o tronco
Desliza
Volta ao sofá
O levantar-se, o passado
Preso às pernas
A dança, nos pés o peso
Leve da eternidade
O cansaço"


Ana Marques Gastão

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

vamos fingir

Vamos, vem. Vem fingir. Não se passou assim tanto tempo para já teres esquecido de como é. Dantes fazias todas estas coisas sem ser preciso pedir-te, sem respirar sequer, era a tua essência. E estava em todo o lado, comigo, a toda a hora. O sol aparecia e desaparecia, e estava lá. Os ponteiros do relógio davam voltas e voltas e voltas e tu vinhas a correr, saltitante, atrás deles e eu via que estava lá. Vinha o frio, pedia-te o teu casaco, e estava lá. Ou quando nevava, flocos de neve estrelados, e nos deitávamos na neve, de braços abertos, pernas abertas, olhos abertos a olhar o céu, e então estávamos lá também, estava lá o céu, estava lá o Mundo. Ou quando acordavas de manhã com a campainha a tocar – o carteiro toca sempre duas vezes – e gritavas para ir eu abrir a porta, que era demasiado cedo para tu te estares a levantar, quando tinha sido eu que me tinha deitado tarde e más horas na noite anterior, por ter ficado a arrumar a cozinha depois de te ter feito o gelado de chocolate que tanto gostavas. Ou quando ficava a estudar contigo e depois me punha em frente às estantes do teu quarto a cantar músicas velhas com letras velhas, lições velhas, cheiro a velho, e a ler todos os papelinhos de recados que, por preguiça ou outra coisa mais doce tu embirravas em não pôr para o lixo, e depois começava a deitar a baixo todos os bonecos pequeninos e peluches tipo brinde do McDonald’s só pelo gosto de ter que os voltar a endireitar e arrumar – e lá se ia o estudo.
No fundo, não nos esquecemos de nada. Apenas houve uma noite em que te deitaste e te levantaste bem antes do nascer do sol, que correste, não atrás, mas à frente dos ponteiros do relógio e que mudaste de caminho, deixando-me sozinha sobre os flocos de neve precipitantes. E como nevou nessa noite, meu bem! Tive muito frio e, adivinha lá, tinha-me esquecido do casaco. Nesse dia, estudei concentrada e sem interrupções para provar a mim mesma que conseguia fazer as coisas sem ti. Mas vê se percebes, a concentração era o que eu não fazia contigo e acabei por só não fazer o que fazia contigo. Fiz-me à vida, então. Só muito tempo depois é que percebi que não tinhas sido tu que tinhas perdido a essência; tinha sido eu que a tinha perdido de mim.
Peço-te: vamos fingir. Podemos fingir que não nos conhecemos nunca. Que nunca dormimos na mesma cama minúscula de um beliche enferrujado, que nunca te puxei para mim no meio de um corredor escuro. Podemos fingir que nunca te enxuguei as lágrimas com um rolo de papel higiénico amarelo ou que nunca fiquei horas a chorar ao teu colo. Podes até fingir que nunca traíste uma pessoa tantas vezes que deixou de ter importância, assim como eu posso fingir que nunca te menti por gozo. Vamos fazer de conta que nunca fui ter contigo de manhã para ir comer gelado de morango debaixo do muro cinzento do parque e que nunca cometeste o erro de me levar a casa a seguir. Podes até fingir que não te lembras de como eu corria para ti todas essas manhãs e gritava e te abraçava e depois te pedia uns trocos para ir comprar mais um gelado, desta vez de limão, ou como nos portávamos bem quando andávamos simplesmente por aí ou íamos ao cinema e gritávamos ao ver aquele actor ou ao ouvir aquela música. Podes disfarçar o alguma vez me teres ido agarrar quando eu andava a escorregar lentamente pela parede, ou o alguma vez teres gritado comigo por andar a agir mal, por andar a beber de mais ou por andar a comer de menos. Podes fazer de conta que nunca apanhámos um comboio quase de madrugada e que nunca corremos em loucura até ao areal só para rebolar na areia, ou na relva estupidamente fresca numa tarde de Outubro, ou no chão duro de tua casa.
Anda lá, vamos fingir. Podemos fingir que não nos conhecemos nunca ou que estamos bem, ‘muito bem, obrigada, e o senhor?’. Podemos fingir que ainda é a mesma coisa e que só não me dizes nada no corredor da escola porque, nem imaginas, era tanta distracção que nem me viste. E que também não vieste ter comigo naquele fim-de-semana porque tinhas que estudar para uns testes diagnósticos da treta ou que não tinhas mesmo dinheiro para me pagar o gelado de ananás naquele dia. Podemos fingir que as palavras que me dizes não são secas, só desprovidas de sentimento por causa do calor. E que é por andar a fazer muito calor ultimamente que andamos assim. É por estar muito calor que é desconfortável deitares-te comigo ao sol nas bancadas ou abraçares-me com toda a força.
Anda lá. Vem, vamos fingir. Vamos fingir que nunca nascemos. Que o Universo não existe. E que não tenho medo da ausência. Digo-te que não me fazes falta. Podemos fingir, principalmente, que não me fazes falta.
Vamos fingir.
02-10-08

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

e amanhã?

" (...) E as minhas tentativas para esvoaçar como fada por aí, aparecer à tua porta de manhã, morta de sono, e dizer-te com um sorriso triste e olhos brilhantes: “Hoje acho que te amo. Amanhã já não sei. E tu, achas que me amas hoje?"

domingo, 5 de outubro de 2008

an american in paris (1951)


"- Maybe Paris has a way of making people forget.
- Paris? No. Not this city. It's too real and too beautiful to ever let you forget anything."

memórias de abril de 2007

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

sempre

Sempre que me pedes que fique, eu vou. Sempre que te peço que voltes, tu vais. E sempre que eu nao quero ir, e sempre que tu nao queres que vá, e sempre que te chamo, e sempre que me olhas, e sempre que sim e sempre que não... são sempre sempres diferentes.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

matizes e limões

Naquele fim de tarde de matiz quente, não me surpreendi quando me vieram parar às mãos uma folha branca e uma caixa de lápis preta, rebuscada, com uma fissura pequena por onde espreitavam doze tímidos lápis de cor.
Decidi desenhar a tua ausência e para isso escolhi um lápis amarelo, porque o amarelo me fazia lembrar limões e os limões me faziam lembrar-te a ti. Comecei a minha obra com uma longa, infinita, linha recta sem princípio nem fim. A tua ausência desenhada naquela cor macilenta fez-me arder os olhos. Fechei-os e apertei os lápis de cor contra a pele dura das minhas mãos. Quando os larguei e finalmente respirei fundo, a palma da minha mão era a morada de onze riscas coloridas.
O lápis amarelo continuara parado sobre a folha de papel outrora intacta e, por isso, na minha mão, não se encontrava o risco dessa cor áurea. Agora tinha onze riscos - onze caminhos - de cor diferente para escolher. E o amarelo, aquela cor que me fazia lembrar os limões que me faziam lembrar-te a ti, não estava lá.