domingo, 11 de abril de 2010

"Como é tarde. Como é tarde e, contudo,
Como é longínquo ainda o dia em que...

É tarde, morres-me de sono.
Não consigo dormir. Por muito que tente,
Serei mesmo eu esse reflexo de paraíso na tua cara?
Desmoronas-te nos meus braços e dizes:
Por vezes, e sempre."

sábado, 10 de abril de 2010

lágrimas (d)e céu

Por cima das nossas cabeças: o céu. Por cima das nossas cabeças, encostadas uma à outra como se se tratassem de almas siamesas as nossas, o céu, nocturno mas estrelado, a monotonia do negro quebrada por milhentos pontos cintilantes cujo escrutínio rigoroso levaria horas infinitas. Poderíamos estar deitados ao ar livre sobre a relva fresca ou a areia molhada de uma praia qualquer que esse céu por cima das nossas cabeças não pareceria mais pleno ou genuíno.
Na verdade, estamos estendidos sobre a velha carpete da sala e acima de nós o tecto é branco e desinteressante, mas isso é apenas o modo como me lembro desse momento, memórias imagéticas de como as coisas foram de facto - e do que vale ser-se de facto quando a forma como sentimos é completamente diferente? -, nada tendo que ver com o modo como vivi, evoco esse momento e convoco essa banda sonora.
Lembrar, é disso que se trata, afinal: memórias. Memórias que já nem sei se partilhas, memórias que eu própria já nem sabia possuir e cujo significado já não sei qual é. De qualquer modo, queria que ficasse claro que ainda me lembro. Não que isso valha de alguma coisa, devesse ou sequer que fosse meu desejo que valesse mas... Mas se eu te dissesse o que me vai hoje na cabeça, que música soa ininterruptamemente na minha jukebox, gostava que acreditasses. Embora aposte que não, não é possível aceitares a coerência dos meus actos, palavras ou lembranças, depois de tantas coisas feitas, desfeitas, ditas, desditas, construídas, destruídas. Aposto que não acreditarias. Mas ainda assim gostava de ter coragem para te dizer que ainda há momentos em que algo dentro de mim funciona a mil à hora quando algo que cai do céu me lembra de ti.
Neste momento é uma música, gostava que soubesses qual. Fala de céu e paraíso, de um tu e de um eu, hipotéticos, irreais, impossíveis. Só queria saber se ainda ousarias dizer o meu nome ou agarrar-me a mão se me visses por aí, porque e mesmo sabendo que tem que ser assim, que fui desterrada e não pertenço mais a esse lugar. Esse céu por cima das nossas cabeças, onde tu estás, e para onde se evaporam, quer queira quer não, as lágrimas que solto. Recebe-as e pensa no que significam. Guarda-as como prova nº 1 do que quiseres. Só não deixes que chova e que o céu desabe todo sobre a minha cabeça.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

eternity

"Last and crowning torture of all the tortures of that awful place is the eternity of hell. Eternity! O, dread and dire word. Eternity! What mind of man can understand it? And remember, it is an eternity of pain. Even though the pains of hell were not so terrible as they are, yet they would become infinite, as they are destined to last for ever. But while they are everlasting they are at the same time, as you know, intolerably intense, unbearably extensive. To bear even the sting of an insect for all eternity would be a dreadful torment. What must it be, then, to bear the manifold tortures of hell for ever? For ever! For all eternity! Not for a year or for an age but for ever. Try to imagine the awful meaning of this. You have often seen the sand on the seashore. How fine are its tiny grains! And how many of those tiny little grains go to make up the small handful which a child grasps in its play. Now imagine a mountain of that sand, a million miles high, reaching from the earth to the farthest heavens, and a million miles broad, extending to remotest space, and a million miles in thickness; and imagine such an enormous mass of countless particles of sand multiplied as often as there are leaves in the forest, drops of water in the mighty ocean, feathers on birds, scales on fish, hairs on animals, atoms in the vast expanse of the air: and imagine that at the end of every million years a little bird came to that mountain and carried away in its beak a tiny grain of that sand. How many millions upon millions of centuries would pass before that bird had carried away even a square foot of that mountain, how many eons upon eons of ages before it had carried away all? Yet at the end of that immense stretch of time not even one instant of eternity could be said to have ended. At the end of all those billions and trillions of years eternity would have scarcely begun. And if that mountain rose again after it had been all carried away, and if the bird came again and carried it all away again grain by grain, and if it so rose and sank as many times as there are stars in the sky, atoms in the air, drops of water in the sea, leaves on the trees, feathers upon birds, scales upon fish, hairs upon animals, at the end of all those innumerable risings and sinkings of that immeasurably vast mountain not one single instant of eternity could be said to have ended; even then, at the end of such a period, after that eon of time the mere thought of which makes our very brain reel dizzily, eternity would scarcely have begun."

James Joyce, "A Portrait of the Artist as a Young Man"

quinta-feira, 8 de abril de 2010

pickup on south street (1953)

"You got any Happy Money?
Happy Money?
Yeah, money that's gonna make me happy."

quarta-feira, 7 de abril de 2010

double indemnity (1944)

"It's just like the first time I came here, isn't it? We were talking about automobile insurance, only you were thinking about murder. And I was thinking about that anklet."
"Suddenly it came over me that everything would go wrong. It sounds crazy, Keyes, but it's true, so help me. I couldn't hear my own footsteps. It was the walk of a dead man."