sábado, 15 de novembro de 2008

voltar

A noite passada adormeci com o teu beijo, com o teu toque, com o teu pedido vão repetido na entrada daquele familiar prédio gélido. Tinhas-me dado um abraço mas, pura ironia, nao ficava bem no enquadramento da cena. Manchava a imagem anterior, a minha testa pressionada nas tuas costas, a minha ternura a aconchegar a tua fúria. Aconchego? Andávamos tão distantes que as minhas mãos pendiam como pesos mortos - tinha medo de te tocar.
E então disseram-te para me abraçares, para me protegeres - de ti? de mim? já nem lembro - e eu quase cedi ao impulso de rodear o teu pescoço com os meus braços e sussurrar ao teu ouvido algumas das lágrimas que me tinha esquecido de gritar, da última vez. Contive-me mas tu não desviaste o olhar. Voltaste a olhar-me nos olhos. Voltaste a sorrir-me. Voltei a pedir-te abraços. Voltámos aos jogos do costume. Voltei a sentir saudades tuas. Voltei a convencer-me que tinhas voltado, ou pelo menos que o ias fazer.
Voltei, voltaste, voltámos?
Tenho medo que tenhas voltado a fazer-me falta, só. E tenho mais medo ainda que esta falta que sinto seja apenas a falta tão vazia e sem sentido do próprio sentir falta. Sentir falta de mim mesma - não do que eu fui contigo, mas do que era quando ainda era contigo. Percebes?
Non-sense, je sais.

1 comentário:

Anónimo disse...

é que foi só ler a primeira frase percebi logo sobre que era o texto,começo a gostar de te decifrar. gostar sempre gostei,a conseguir..