domingo, 12 de abril de 2009

10

Como é tarde. Como é tarde e, contudo, como é longínquo ainda o dia em que não terei de te deixar ir embora, nem que seja para voltares tempos depois. Daqui a pouco o sol nasce e eu ainda te tenho aqui, ainda me tenho nos teus braços. É tarde, morres-me de sono com um sorriso nos lábios e eu perco os meus nos teus olhos fechados. Não consigo dormir. Por muito que tente, os meus olhos teimam em abrir-se de instante a instante para confirmar (ou talvez provocar) a tua serenidade. Tens um sorriso inabalável no rosto. Serei mesmo eu esse reflexo de paraíso na tua cara? Como fui aí parar?
Entre portas e janelas e armários e caixinhas, acho que desta vez entrei finalmente pela porta principal. É cada vez mais difícil virar as costas agora que sou bem-vinda, são cada vez mais perpétuas as nossas marcas um no outro. Finalmente, concedem-me um pouco de equilíbrio ao fim de tantas léguas em cima de uma corda bamba.
Às vezes ainda tenho medo. Um medo que me corrói lá no fundo e me aperta a garganta quando a noite já vai lançada. Mas hoje, não. Hoje só tu me falas e sorris de olhos abertos e fechados, hoje só tu existes. Gostaria de te poder dizer que foi de repente que percebi que já não podia viver sem ti, que acordei um dia a querer-te para sempre, mas a verdade é que ainda não sei como nem quando foi que te vieste aninhar tão profundamente dentro de mim.
Acordas com um gritinho estúpido meu. O teu primeiro impulso leva-me a pensar que me queres matar por te ter acordado de uma forma tão repentina. Lentamente, o teu sorriso assume formas de paraíso. É mais um pedaço de céu que me dás para a minha colecção, ao fim de tanto tempo. Cantas-me ao ouvido promessas de eternidade e arrepios de ternura. Olhas para mim e derretes, desmoronas-te nos meus braços e dizes "eu já me sinto em casa".
Por vezes, há tanta beleza no mundo que não sei se vou aguentar, como se o meu coração me fosse rebentar nas tuas mãos, onde tão bem o guardas. Por vezes, a felicidade está a meia dúzia de metros, logo ao cimo da rua. E sempre, o meu melhor paraíso és tu.

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