quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

o corredor, a porta e o banco de jardim

Sabes aquele sonho em que estás num corredor escuro sem fim, e as paredes à tua volta se preenchem de quadros com caras de pessoas que parecem estar mesmo a olhar para ti e cujos olhos se mexem (sim, podes mesmo jurar que se mexem) quando passas? E ao fundo do corredor há uma porta e por baixo dessa porta entra o único feixe de luz que ilumina o caminho. Andas, andas, andas, já estás a andar há horas, e o corredor nunca mais acaba, a porta parece estar cada vez mais longe. Começas a reparar que os quadros se repetem, já viste aquelas caras que agora olham mesmo para ti, sorriem e piscam os olhos, como se te conhecessem. Agrada-te andar por ali com elas. O corredor nunca mais acaba, é verdade, e a porta está cada vez mais longe. Habituas-te: aos caminhos, aos cantos, aos cheiros, à escuridão, ao frio, ao silêncio. O sonho que ao inicío te dava uma sensação claustrofóbica, de solidão e aperto, quase em tom de pesadelo, é agora o maior sorriso da tua noite.
Passas assim dias, semanas, meses. O corredor, os quadros, a porta e o feixe de luz continuam no lugar exacto em que sempre estiveram. Não te cansas de andar, de sonhar. E também não queres acordar, embora saibas que nada daquilo é realidade.
Até que, um dia, chegas à porta. Por momentos, pensas: "vai estar trancada, tem que estar trancada", mas não, afinal só está encostada, só precisas de a empurrar. Então porque não o fazes? Então porque é que insistes em olhar para trás, em pedir socorro às caras à tua volta? Porque te habituaste. Mais do que isso: viciaste-te. Fazes então aparecer um banco de jardim num canto do corredor, num canto do teu sonho. Deitas-te nele e esqueces a porta. Não queres acordar; não queres parar de sonhar; não queres largar o teu vício.

"the hardest part of kicking a habit is wanting to kick it"

1 comentário:

Cioara Andrei disse...

foarte interesante informatiile de pe blogul tau!