segunda-feira, 5 de abril de 2010

metafísica dos tubos

"Os olhos dos seres vivos possuem a mais espantosa das propriedades: o olhar. Não há nada mais singular. Não se diz dos ouvidos das criaturas que têm um "escutar", nem das sua narinas que têm um "cheirar" ou um "farejar".
O que é o olhar? Algo inexprimível. Não há palavra que abranja a sua estranha essência. E, no entanto, o olhar existe. E são mesmo poucas as realidades com uma existência tão real. Qual é a diferença entre os olhos que têm o olhar e os olhos que o não têm? Esta diferença tem um nome: vida. A vida começa onde o olhar começa.
(...)
O olhar é uma opção. Quem olha decide fixar os olhos numa determinada coisa e, portanto, não prestar atenção ao resto das coisas abrangidas pelo seu campo de visão. É por isso que o olhar, que é a essência da vida, é essencialmente uma recusa.
Viver significa recusar. Quem aceita tudo não tem mais vida que o buraco do lavatório. Para se viver, é preciso sermos capazes de deitar de colocar tudo no mesmo plano, acima de nós. (...) É preciso rejeitar (...) para se poder escolher. (...) A única escolha errada é a falta de escolha."
Amélie Nothomb

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