quinta-feira, 2 de julho de 2009

quem corre por gosto não cansa

Atiro-me para cima do sofá depois de ter esvaziado uma garrafa de água gelada de um só trago. O meu corpo suado, quente, ofegante, anseia por um superfície fresca; rebolo para o chão e deixo-me ficar, atenta, observadora: conto duas gotas de água a escorrer pelo meu pescoço e, à medida que a minha respiração volta ao normal, reconheço um ardor no tornozelo, um corte, um fiozinho de sangue coagulado que ameaça chegar à planta do pé. Eu sei que a culpa é minha - quer seja por não ter ainda trabalhado o necessário e imunizado os meus pés, quer seja por continuar a massacrá-los com estas dentadas doces, por não ser suficiente ou por ser demais - eu sei que a culpa é minha. Mas sabe bem, quanto mais não seja pelas ausências momentâneas e febris de razão, a fluência e o encadeamento dos movimentos, o roçar leve dos pés no chão. Como sabe bem o abandono depois da entrega. Como sabe bem... o esforço, a dedicação, o dar tudo, a procura - tanto de perfeição como de compreensão, embora essa teime em não chegar nunca, nem daqueles que mais precisamos; o desafio. Principalmente o desafio. Depois de tantas vitórias desgastadas ou sem sabor ao longo deste ano, percebem agora o porquê da minha entrega? Não foi fácil, sim, pela primeira vez em muito tempo não foi fácil. Pela primeira vez em muito tempo, qualquer prémio vai ser merecido, porque desta vez dei (quase) tudo de mim. Mas quem corre por gosto (ou dança, neste caso) não cansa. Nunca.

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