quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dia Mundial da Dança

No começo: bras bas. Dantes dizia "Mãe, quando for grande quero ser bailarina." Dançava no meio da rua nas noites quentes de Agosto e recebia das pessoas uma ou duas moedinhas, que guardava para mais tarde trocar por uma nota e comprar um gelado. Depois, deixava a nota escapar-se por entre os meus dedos: en l'air. "Mãe, voou." Porque as bailarinas, para mim, também voavam e eu gostava de ver os papéis e as folhas das árvores a rodopiar no ar.
"Mãe, quero ir para o ballet." Gostava de cor-de-rosa porque era a cor das bailarinas, gostava de sabrinas porque faziam lembrar sapatilhas de ballet, gostava de vestidos rodados para os fazer rodopiar quando dançava, gostava de apanhar o cabelo para ficar parecida com as bailarinas, gostava de borboletas porque eram os animais que dançavam. Plié-tendu, relevé-posé. Não tinha vergonha de dançar em frente às pessoas, quando era pequena. Para mim, dançar era liberdade, total e incondicional. A pouco e pouco, ganhei medo. De me exceder? De ficar para trás? De errar? Dançar deixou de ser "ser livre". Tombé-pas de bourré-pas de chat-pas de chat.
Cometi o erro de me deixar levar pela pura técnica que nem dominava. E perdi. O sonho, o "Mãe, quero ser bailarina.", o fascínio pelo rosa imaculado que, para mim, personificava a dança. Bolhas, calos, dores na pernas e nas costas. A derrota do primeiro par de pontas. A derrota do segundo par de pontas. O desapertar as fitas ao fim de uma aula de ballet e ter os pés em sangue. O terceiro par de pontas que, a pouco e pouco, vou vencendo. A espargata a cinco centímetros do chão. As primeiras pirouettes seguidas. As primeiras vitórias com V grande em palco. A união intermitente, as mãos que se dão para dar força aos pés. As mãos que se largam, depois, para lhes dar asas. Changementes.
Novas danças e experiências, só por divertimento. Subitamente, no verão passado, dança contemporânea e danças de salão: le tango, une pensée triste qui se danse. Developpés. Agora, quando vou para o ballet mais cedo para treinar, gosto de olhar as pequeninas de cor-de-rosa e de ser invadida por uma melancolia que poderia ser igualmente sentida por uma bailarina que não dança há muito tempo. É desta maneira que me consciencializo que não, as bailarinas não voam, a não ser que dêem tudo delas. Como os anjos, só ganham asas depois de cumprir a sua missão. Arabesques e grands-jetés.
Gostava de ainda querer ser bailarina. Gostava de poder dizer "Mãe, quando for grande quero voltar a ser pequena, para desta vez não fugir. Desta vez o único glissade que quero fazer é em palco, não deixes que o sonho me deslize outra vez pelos braços de bailarina que um dia ainda gostava de ter." Reverence. La danse est une cage où l'on apprend l'oiseau.

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