domingo, 15 de fevereiro de 2009

duas semanas

Duas semanas. Não é uma promessa, muito menos uma ameaça. Um pedido, talvez, igual a todos os outros que nunca te fiz. Disse-te que chegava, que me bastavas só mais duas semanas, que te esquecia nesse tempo. Menti.
Não é que não quisesse consegui-lo, queria-o tanto como tu. Só não me esforcei o suficiente. Não me esforcei de todo, porque nunca me deste razões para te largar. Tentaste, contudo, fazer-me desistir de ti, pediste-me que te esquecesse. Mas nunca antes um pedido parecera tão pouco convincente, e tive a certeza que o que me pedias era exactamente o seu contrário.
Lembro-te agora do meu pedido. Duas semanas, o tempo que te pedi para que me deixasses esquecer-te. Tivemos sucesso, como podes ver. Meticulosamente te esqueço agora a cada beijo e nas coisas que aprendo contigo te deixo ficar para trás. Abraços, olhares, guardanapos de papel, nada disto tem mais importância. Acreditas em mim, não acreditas? Preciso que acredites quando digo que te amo, mas também quero que acredites que te esqueci quando for a altura, ou que estou a aprender a fazê-lo.
É a aprender a esquecer-te que percebo o quanto gosto de ti, o quanto pouco me importa se é certo ou errado ou se nos estamos a usar e enganar desumanamente. Temos as cartas todas na mesa, ninguém se pode queixar de nada. Uso-te porque preciso de ti. Usas-me, simplesmente, porque sou um corpo e os corpos não existem se não forem usados. E depois? Eu não sou só corpo e já aprendi a acreditar na outra parte de mim e na história que temos como sendo aquilo que me traz sempre de volta a ti, como sendo aquilo que esteve sempre contigo.
Entreguei-me, terás percebido? E contudo nunca antes me despedi tanto de ti. Entreguei-me às incertezas do momento, à noção de efémero subjacente a tudo. Já não espero nada de ti, mas ainda durmo de janela aberta para que não tenhas medo de entrar sempre que quiseres. Tens razão quando dizes que gosto de falar de nós através de portas, janelas e caixas: por um lado, é porque te quero guardar para sempre no fundo do armário; por outro, é porque quero que saibas que podes voltar sempre. Tenho milhares de duas semanas pela frente para te aprender a esquecer outra vez.

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