segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

metade

Sabes aquela sensação de quando percebemos que ganhámos mais uma pessoa? Não sabemos como, não nos lembramos quando nem onde, mas a verdade é que a sensação de vitória está lá, ainda que escondida. Somos capazes de viver meses sem nos apercebemos que ganhámos alguma coisa. Somos capazes de só perceber isso passado muito tempo, de só perceber quando já é tarde de mais – ou até de nunca perceber. Somos capazes até de não dar o devido valor a quem nos dá o céu todos os dias, até que, certo dia, acordamos a sentirmo-nos um bocadinho mais cheios, e aí compreendemos, demasiado tarde, talvez, que temos uma parte (uma metade, quem sabe) de alguém em nós.
Tive sorte. Contigo sempre tive aquela sensação de que, acontecesse o que acontecesse, ia ganhar alguma coisa. Como as bailarinas, como os actores, quando estão em palco: por muito que o espectáculo corra mal, por muitas brancas que tenham, por muitos pés que dêem ao lado, acabam sempre por receber alguma coisa; se não forem os aplausos, será, pelo menos, a experiência, o “valeu a pena” depois do esforço.
Tive sorte. Contigo foi fácil, simples. Sim, sempre nos sustivemos na simplicidade do criar laços, no cativar do nosso Príncipezinho. Não precisei de pensar quando ouvi aquela voz dizer “Quando eu disser, ponham a mão no ombro de outra pessoa”; no fundo, escolhi-te, escolhemo-nos, mas não sabíamos o que é que podia sair dali, não podíamos imaginar que íamos ser um e outro lados do espelho, o simples e o complexo, o quente e o frio, o céu e a terra. Ainda hoje não sei qual de nós é mais céu, qual de nós sonha mais. Mas sei o que somos. Somos metades.
E é assim. É assim que percebemos quando ganhamos uma pessoa, foi assim que percebi: uma mão num ombro a marcar um início, uma mão na nossa mão quando começamos a chorar compulsivamente numa sala de cinema mesmo antes do genérico inicial do filme; é quando começamos a fazer planos e a partilhar os mesmos sonhos, quando começamos a pedir boleias, dormidas, gelados e folhados de queijo às duas da manhã, quando adormece uma em cima da outra a ver um filme riscado a meio; é quando já não são precisas palavras, nem sermões, nem um “vocês ainda vão acabar juntos”; é quando os maus humores já são parte de nós – e até achamos piada; é quando olhamos de longe a nossa metade com as mãos mergulhadas em cola e fotografias numa casinha de bonecas construída por nós a cantarolar uma música com mais de 60 anos, tão característica de nós. É assim. É esta a sensação de perceber que ganhámos mais uma pessoa, desta vez, uma metade. A minha metade.

1 comentário:

Mariana disse...

sem palavras
adoro-te